Ganhos com geração de emprego, renda e turismo compensam e ultrapassam os gastos com investimentos no setor, afirma Instituto Trata Brasil. Prazo de 20 anos é baseado no Plano Nacional de Saneamento Básico.
Por Clara Velasco, G1
A universalização do saneamento básico traria ao estado de São Paulo benefícios econômicos e sociais de R$ 64,9 bilhões em 20 anos, segundo um estudo do Instituto Trata Brasil obtido pelo G1 e divulgado nesta segunda-feira (11). Isso quer dizer que os ganhos com a expansão dos serviços de água e esgoto no estado são maiores que os custos para investir no setor. Os setores mais beneficiados são os de saúde, educação, turismo, emprego e imobiliário.
Considerando o custo médio para levar água e esgoto às moradias de São Paulo, o estudo estimou que serão necessários R$ 26,7 bilhões em 20 anos para a universalização – a valores presentes e a preços de 2014. E, já que esse acesso significa um aumento das despesas das famílias, os custos totais chegam a R$ 52,9 bilhões.
Quanto aos benefícios, que envolvem desde a redução dos custos com a saúde até a renda gerada pelo aumento de operação da cadeia produtiva do saneamento básico, os valores chegam a R$ 117,8 bilhões. No final, o balanço positivo é de R$ 64,9 bilhões para o estado.
Segundo o estudo, na média do período que vai de 2015 a 2035, a cada R$ 1.000 que se investirá na expansão da infraestrutura de saneamento, São Paulo obterá R$ 2.426,00 de retorno social no longo prazo.
O prazo de 20 anos estabelecido no estudo é baseado no Plano Nacional de Saneamento Básico, que foi elaborado e lançado pelo governo federal em 2014 e que propõe metas de investimento para o setor em duas décadas. Por isso, o estudo considera o período de 2015 a 2035 para fazer o balanço da universalização.
Evolução no estado
A situação do saneamento em São Paulo é melhor que a média nacional. Segundo os dados de 2015 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 95,6% da população do estado têm acesso ao serviço de abastecimento de água e 88,4% estão ligados ao sistema de coleta de esgoto. Já considerando todo o país, os índices são de 83,3% e 50,3%, respectivamente.
Em 10 anos, São Paulo agregou mais 7,7 milhões de cidadãos ao serviço de abastecimento de água e mais de 9,6 milhões ao sistema de esgoto. É com base nestes números e no que eles representaram para o estado em questão de custos e ganhos que o instituto fez uma estimativa de como as próximas décadas podem ser caso o estado atinja a universalização.
“São Paulo tem avançado em um ritmo interessante, mas precisa avançar mais. Tem áreas mais difíceis, como o tratamento de esgoto e a perda de água, que têm avançado muito pouco, como vimos durante a crise hídrica”, afirma Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.
Segundo os números mais recentes, apenas 61% do esgoto do estado é tratado. Dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ainda apontam que 31,8% da água tratada em 2016 foi desperdiçada.
Além disso, outro desafio para o estado são as áreas irregulares, como favelas, que não costumam entrar nas estatísticas.
“É possível que São Paulo universalize os serviços nas áreas regulares, mas fique longe em áreas rurais e irregulares. A gente não vê um esforço nesses locais, mas quando falamos de universalização, estamos falando de todas as pessoas”, diz Édison.
Carlos afirma que algumas comunidades têm exigido os serviços por meio da Defensoria Pública, mas destaca que os esforços têm que partir principalmente das prefeituras – e não apenas em áreas irregulares, mas em toda a cidade. “Tudo nasce da vontade do prefeito. Como a lei [do saneamento básico] colocou a responsabilidade para o prefeito, cabe a ele tomar essa atitude. Não é fácil, mas ele vai encontrar caminhos para fazer projetos e conseguir recursos”, diz.
Benefícios transversais
Segundo Édison Carlos, os ganhos da universalização do saneamento são amplos por se tratarem de um investimento transversal – ou seja, que envolvem diversas áreas da sociedade.
O estudo aponta que a maior parte do retorno financeiro da universalização viria das próprias cadeias produtivas do saneamento: a renda gerada pelo investimento direto no setor (ampliando redes, construindo estações de tratamento etc.) seria de R$ 31,1 bilhões, e a renda gerada pelo aumento de operação das empresas responsáveis pelo saneamento (contratando mais empregados, aumentando a compra de produtos químicos etc.) chegaria a R$ 30,6 bilhões.
Existem, ainda, os efeitos indiretos do saneamento, como os encontrados na área da saúde. Em 2013, por exemplo, o estado de São Paulo teve 2,9 milhões de casos de afastamento por diarreia ou vômito e 19,2 mil hospitalizações por conta de doenças gastrointestinais infecciosas. Com a melhora das condições de água e esgoto, o estudo prevê uma redução de custos de R$ 2,2 bilhões, o que representa uma economia anual de R$ 110 milhões para o estado.
“Comparativamente, é a área que tem os menores ganhos econômicos, pois está ficando barato tratar diarreia. Mas não deve ser encarado assim, pois os danos a longo prazo são grandes. Com o saneamento, teremos profissionais melhores, crianças que aprendem mais, pessoas que ocupam menos leitos. A saúde continua sendo, do ponto de vista social, o melhor ganho”, diz Édison Carlos.
Com a melhora da saúde, há um aumento na produtividade dos trabalhadores. De 2005 a 2015, esse ganho foi de R$ 8 bilhões. Segundo o estudo, com o avanço gradual nos investimentos de saneamento em 20 anos, São Paulo se beneficiará com mais R$ 8,2 bilhões.
Os efeitos sobre a valorização imobiliária também são considerados, pois estudos mostram que, comparando dois imóveis iguais em áreas com e sem saneamento, o imóvel com saneamento tem um valor 14% maior, em média, que aquele sem acesso aos serviços. A previsão é que a universalização traga um ganho no setor imobiliário paulista de R$ 42,1 bilhões.
Quanto ao turismo, o estudo destaca que a existência de infraestrutura de saneamento é fundamental para preservar a natureza e atrair turistas, principalmente no litoral paulista e nas áreas de serras e Mata Atlântica. Entre 2005 e 2015, o avanço do saneamento gerou para o estado R$ 5,2 bilhões. Já a universalização traria mais R$ 3,6 bilhões entre 2015 a 2035.
Fonte G1