O lugar das mulheres na política
Em meio ao contexto de polarização, onde ficam as mulheres? Segundo um estudo da União Interparlamentar, organização internacional responsável pela análise dos parlamentos mundiais, o Brasil está em 142º lugar quando o assunto é a participação das mulheres na política nacional. Os dados têm como base as eleições federais de 1997 a 2018.
Frente a este cenário, a cientista política Juliana Fratini criou o encontro “Mulheres na Política”. O objetivo é reunir lideranças de diferentes partidos para incentivar o diálogo sobre a importância da figura feminina na gestão pública brasileira.
Confira a entrevista com a cientista, na íntegra:
Revista Prefeitos & Gestões: Como você avalia a participação das mulheres na política no Brasil?
Juliana Fratini: A participação feminina na política é absolutamente significativa, desde o período da abolição da escravatura, passando pelo período do Estado Novo à Ditadura, quando as mulheres exiladas se encontravam para tratar do tema (conforme apontam os estudos das cientistas sociais Carla Garcia, Celi Pinto, Clarice Otto, Flavia Biroli, entre outras). Em geral, existem estudos que apontam que as mulheres sempre estiverem buscando espaço político, mas pouco foram escutadas e recompensadas pelo seu esforço, embora tenham feito a diferença na atuação.
Desde o período da redemocratização (1988), as mulheres têm atuado de maneira mais sustentada na política, com a participação profissional e permanente, seja por meio das organizações da sociedade civil, universidades, ou núcleos partidários. Contudo, apesar de todas as iniciativas, a participação é ainda pífia em seu resultado. Nós possuímos uma Câmara Federal com 15% de mulheres eleitas e este número é ainda menor em algumas Assembleias Legislativas e Câmaras municipais, o que indica que precisa haver uma mudança significativa na dinâmica política institucional, bem como em nossa cultura que é predominantemente patrimonialista, privatista e patriarcal.
Revista Prefeitos & Gestões: Como esta participação se dá nas prefeituras brasileiras?
Juliana Fratini: O aumento da participação das mulheres na política depende do aumento do engajamento partidário (institucional, no sentido de respeitar a participação das mulheres e respeitar, judicialmente, os 30% de vagas para as candidaturas femininas, bem como o destino de 30% de recursos eleitorais e partidários para essas campanhas.) Mas isso não é tudo. É necessário modificar a percepção cultural e pessoal dos (as) brasileiros (as) que as mulheres não podem não podem ocupar postos de poder público. A mudança cultural de percepção é realidade é a mãos importante, já que as mulheres estão preparadas para ocupar estes espaços.
Revista Prefeitos & Gestões: Como seria possível aumentar esta participação?
Juliana Fratini: A participação pode ser aumentada por meio de mudanças culturais, estas que levam tempo para acontecer, mas que estão “no jogo” faz mais de um século. Atualmente existem organizações da sociedade civil que desempenham este papel de colocação da mulher na política institucional (são exemplos os grupos Vamos Juntas, Elas no Poder, Vote Nelas, Grupo Mulheres do Brasil, A Ponte, Delibera Brasil, entre outros). Não menos importante é o trabalho dentro dos partidos, com núcleos de apoio às pautas femininas. Além disso, a imprensa, que contribui para a formação da opinião pública, precisa melhor expor quais são as demandas e dificuldades das mulheres. O poder judiciário também tem contribuído a fim de haver uma democracia mais plena na qual as mulheres estejam inseridas em posições de mando e poder de decisão.
Revista Prefeitos & Gestões: Quais são os principais desafios para que isso ocorra?
Juliana Fratini: Os principais desafios são culturais. Nós estamos “acostumados(as)” com uma política patriarcal, patrimonialista e privatista. Nós precisamos assimilar aspectos mais liberais da democracia, quando todos são vistos como iguais; e mais progressistas, em relação à justiça social pela posição do gênero.
Revista Prefeitos & Gestões: Qual é o papel do Mulheres na Política e quais foram os principais frutos do movimento?
Juliana Fratini: “Mulheres na Política”, não deveria ser, exatamente, um tema contemporâneo, se nosso país e as instituições interpretassem e atendessem de maneira equânime as demandas atuais do gênero feminino (e que não são nem atuais: sempre existiram, mas a diferença é que agora as mulheres possuem voz). As mulheres demandam por equidade no tratamento privado, social e político em relação às suas capacidades e poder. Isso é o que precisa ficar claro. As mulheres são competentes para exercer qualquer função.
Revista Prefeitos & Gestões: De que maneira a polarização política atual reflete na participação feminina nos cargos públicos?
Juliana Fratini: Atualmente se discute nos meios de comunicação apenas o desempenho das candidaturas de Lula (PT) e Bolsonaro (PL) que são os líderes das pesquisas. Quando muito generosos os meios de comunicação discutem, ainda, a candidatura de Ciro Gomes (PDT). Mas não discutem, na mesma proporção, a candidatura de Senadora Simone Tebet (MDB) que, apesar de não ser líder nas pesquisas, desempenha papel importante na conjuntura. A campanha do PT não apresenta devidamente a deputada Gleise Hoffman que é presidente de um dos maiores partidos brasileiros e, por si mesma, possui uma história incrível, digna e leal. Além destas, existem outras Presidentes Partidárias que são Luciana Santos (PCdoB) e Retana Abreu (Podemos) que encabeçam partidos grandes e pouco aparecem em relação à sua importância institucional. Isso, definitivamente, precisa mudar. Da direita à esquerda, essas mulheres que lutam por ideais não possuem visibilidade compatível com o seu trabalho e obrigações.
Fonte: Entrevista Revista Prefeitos&Gestões