Diferentes áreas da administração pública que trabalham juntas, uso das novas tecnologias para solucionar problemas, melhoria da qualidade de vida da população. Todos são elementos que costumam ser associados a uma Cidade Inteligente, um conceito que parece estar distante do Brasil. Já há, porém, bons exemplos no país de iniciativas que aproximam grandes centros urbanos do que se considera como o futuro das cidades.
O Rio de Janeiro pode ser considerado pioneiro neste processo. No início desta década, passou a trabalhar com gestão de dados para tomar decisões estratégicas. Em diferentes projetos, deu maior eficiência ao investimento público.
Ex-chefe do escritório de inteligência de dados da prefeitura e professor da Fundação Getúlio Vargas, Pablo Cerdeira esteve à frente desses projetos. Destaca que, entre os diversos conceitos de “Smart City”, prefere o que fala em um ciclo virtuoso de tomada de decisões, em que há integração entre sociedade, academia, novas tecnologias e outros elementos para dar eficácia à administração e melhorar a qualidade de vida.
“É uma definição que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) usa. A ideia é fechar um ciclo, com o modelo de trazer a sociedade e a academia para a tomada de decisão, dar estrutura para a sociedade participar, lidar com dados. Depois, fazer testes das soluções, experimentá-las, mesmo que não sejam definitivas. A partir daí, avaliar resultados e implementar quando for o caso”, explica.
“Quando se fala de uma Smart City, é muito mais do que só tecnologia”, complementa.
Com esse conceito em mente, o Rio de Janeiro firmou parceria com um aplicativo de monitoramento de tráfego em que os usuários informam onde há engarrafamentos, interrupção, alagamentos, entre outros problemas. Foi a primeira cidade no mundo a tomar essa iniciativa. Hoje, mais de 700 metrópoles seguiram o mesmo caminho.
Era de se imaginar que os dados ajudassem, principalmente, a combater engarrafamentos, mas sua utilização foi além. A partir do cruzamento das informações do aplicativo com índices pluviométricos, reportagens publicadas na imprensa e outros elementos, mapeou-se os locais mais críticos de alagamentos na cidade. A conclusão foi de que havia mais de 1000 pontos em que eram mais comuns, sendo que em 30 deles o impacto sobre a população era maior. Assim, a prefeitura atuou com mais foco nesses pontos, minimizando o problema.
No tráfego, além de entender quais eram os horários e áreas críticas de engarrafamentos, foi possível calcular quanto dinheiro se perdia por conta da imobilidade. Criou-se, então, um plano de reurbanização, que levou em conta os principais gargalos para decidir onde aplicar dinheiro público. Outra parceria, com um banco que oferece serviço de compartilhamento de bicicletas, deu à prefeitura informações sobre o uso das ciclovias, o que gerou ações para que os moradores do Rio as utilizassem como meio de transporte, contrariando a lógica histórica de que a bicicleta, na Cidade Maravilhosa, servia apenas ao turismo.
A gestão de dados de forma inteligente já está se espalhando pelo país. Cerdeira cita os movimentos que São Paulo tem feito neste sentido:
“Ali há potencial para termos uma Smart City e acredito que será um bom exemplo daqui para frente. Houve uma integração de secretarias. Já estão se repensando linhas de ônibus com base nessa integração de dados, além das informações guiarem os locais de colocação de pardais e semáforos inteligentes”.
O especialista ainda aponta cidades como Vitória, João Pessoa e Niterói como exemplos de locais que estão investindo na integração de sistemas, o que as coloca no caminho de se tornarem Smart Cities.
Fonte G1-CCR