Iasmin Pereira de Sousa, aluna do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz/Reprodução
Trabalho foi idealizado por professor de artes do Centro de Ensino Fundamental 28, de Ceilândia, e da filha dele, que é fotógrafa e monitora no colégio. Ao todo, 15 alunos participaram da sessão de fotos em homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado neste sábado (20).
Por Mara Puljiz, g1 DF
Um professor de artes e a filha dele, de 24 anos, desenvolveram um projeto para empoderar e aumentar a autoestima de alunos negros, no Distrito Federal. Durante 30 dias, 15 estudantes de 13 a 16 anos, além de um professor de português, participaram de sessões de fotos (veja vídeo acima).
As imagens do projeto “Retratos: Um grito por consciência“ viraram um painel de 17,5 metros de largura por 1,80 m de altura que está exposto no Centro de Ensino Fundamental 28, na região do Sol Nascente. O trabalho é uma homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado neste sábado (20).
“A gente quis mostrar essa beleza negra. Quando eles se viram no painel, as reações foram das mais variadas. Alguns ficaram mais tímidos e, outros, se achando e falando pra todo mundo: Nossa, como eu sou gato!”, conta o professor de artes Toni Luz, que também é idealizador do projeto.
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Mas as imagens também carregam mensagens de denúncia. Em uma das fotos, um estudante aparece com fita adesiva sobre a boca. Ao lado, a frase: “Não tente me calar. Racismo é crime”.
Gabriel Pereira, aluno do CEF 28 de Ceilândia, e participante do Projeto ‘Um grito por consciência’. — Foto: Amanda Luz /Reprodução
Para confeccionar o painel, o professor Toni Luz contou com o apoio de empresários que conhecia antes de se tornar servidor público, quando trabalhava como artefinalista e designer gráfico. “Conheço muita gente nessa área, e todos colaboraram, de alguma forma, para fazer esse painel”, conta.
Para Toni, a sociedade precisa debater mais sobre o racismo, para que as próximas gerações cresçam entendendo a importância do respeito ao próximo.
“Eu sou branco e filho de negro. Meu pai é negro, veio da favela no Rio de Janeiro e foi o único que se formou e estudou. Ele lutou muito para chegar onde chegou”, lembra o professor.
Toni conta que cresceu sem fazer distinção entre brancos e negros. “Pra mim, ser negro era a coisa mais natural do mundo quando criança, mas depois de maiorzinho, quando eu entrava em uma loja, em um shopping, eu comecei a perceber os olhares meio tortos. Isso 30 anos atrás, mas hoje em dia ainda tem isso”, lamenta o professor.
O projeto
O projeto que resultou nas fotografias começou em 2019, a partir da ideia de outra professora do CEF 35 de Ceilândia. A participação da filha do professor Toni, Amanda Luz, foi especial.
“Era uma época que eu não estava muito bem, passando por um processo depressivo. O projeto me resgatou e, por isso, as fotografias são bem expressivas. Esse projeto também veio para dar voz à eles e a desconstruir a violência, o preconceito”, diz a fotógrafa Amanda Luz.
Em 2020, por causa da pandemia de Covid-19, o projeto seguiu só com exposição nas redes sociais de dois alunos. Este ano, a ação foi retomada.
‘Força e resistência
No painel da escola também está a fotografia do estudante Laércio Pires, de 14 anos. Ele aparece segurando uma corrente e, ao lado, uma frase de Makota Valdina, educadora e ativista dos direitos humanos: “Não somos descendentes de escravos. Nós descendemos de seres humanos livres que foram escravizados”.
Para o adolescente, a fotografia simboliza a luta histórica por igualdade. “O Dia da Consciência Negra é de extrema importância pra nós que sofremos tanto preconceito por nossa cor. As fotografias simbolizam, pra mim, força e resistência”, diz Laércio.
“Precisamos combater isso [o racismo] de uma forma mais rápida possível. Acredito que dentro das escolas, os professores e diretores devem falar sobre o assunto, mas dentro de casa a educação é essencial”, diz Laércio, que está no 8ª ano do Ensino Fundamental.
Para a estudante do 9º ano, Brenda Mickaelle Alves Lima, de 14 anos, o projeto trouxe alegria. “Aumentou minha autoestima. Me senti outra pessoa quando estava tirando as fotos. Eu amei muito participar e achei que as fotos ficaram muito bonitas”, diz ela.
Sobre a importância da conscientização sobre o racismo, Brenda aponta que é uma discussão necessária. “Pra mim, o Dia da Consciência Negra é o dia que as pessoas tiram pra tentar colocar na cabeça da sociedade que, nós, da pele negra, temos que ser tratados do mesmo jeito que pessoas da pele mais clara”, reflete a estudante.
“Não é porque somos negros que devemos ser tratados com indiferença”, diz Brenda, de 14 anos.
Veja mais fotos projeto
Abel Auzier, aluno do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz /Reproduçã
Fernanda Gomes, aluna do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz /Reprodução
Ana Carolina, aluna do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz /Reprodução
Suhênia Maria Lima Sousa, aluna do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz/Reprodução
Lara Carine, aluna do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz/Reprodução
Neurivan Gonçalves, professor do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz/Reprodução
Brenda Mickaelle Alves Lima, aluna do CEF 28 de Ceilândia e participante do projeto “Um grito por consciência” — Foto: Amanda Luz/Reprodução
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