Por meio do videogame Minecraft, docentes de escolas públicas e privadas usam noções de realidade virtual para estimular criatividade e concentração
Conscientes do estímulo à criatividade e da atração que a realidade virtual desperta em crianças e adolescentes, escolas de São Paulo estão usando o videogame Minecraft para ensinar matemática, ciências, artes e filosofia aos seus alunos.
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No Colégio Ítalo Brasileiro, em Moema, na zona sul da capital paulista, o jogo dá suporte às aulas de artes. Por meio de conceitos da realidade virtual e do videogame, alunos do ensino fundamental estudam o impressionismo e a cultura afro-brasileira reproduzindo algumas obras no Minecraft.
“Eles fixaram muito mais o conteúdo porque pesquisaram sobre os artistas e fizeram uma análise minuciosa do detalhe das obras para reproduzi-las o mais fielmente possível”, conta Sabrina Quarentani, professora que leciona a disciplina.
Ela acredita que tanto as escolas quanto os professores precisam dar abertura a novas tecnologias para reduzir a distância entre alunos e instituição. “É uma geração que nasceu com jogos eletrônicos. Eles precisam ser aliados”, diz, sem deixar de destacar a importância de não abandonar práticas tradicionais, como desenhos e pinturas com papel, lápis e tinta.
Pai da aluna Joana, de 9 anos, Jorge Serrão conta que era resistente em relação ao videogame para crianças pequenas. Logo, no entanto, ele mudou de opinião.”Euachava que os jogos eletrônicos viciavam e deixavam as crianças tensas. Mas, com o Minecraft, minha desenvolveu criatividade e senso lógico”, garante.
No Colégio Dante Alighieri, na região central paulistana, os alunos do quarto ano do Ensino Fundamental têm a tarefa de desenvolver no Minecraft um projeto sobre os caminhos da água, dos rios até a torneira de casa, usando conhecimentos adquiridos nas aulas de Ciências e Matemática.
De acordo com Verônica Cannatá, coordenadora de Tecnologia da instituição, o jogo é essencial no desenvolvimento de habilidades como socialização e cooperação, já que permite e incentiva o trabalho em grupo. “Fizemos com que eles trabalhassem em equipes, colaborando uns com os outros. O Minecraft oferece inúmeras oportunidades para o professor trabalhar em sala e é muito valioso quando há um objetivo pedagógico”, explica.
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Na Escola Internacional de Alphaville, na Grande São Paulo, foram os próprios alunos que sugeriram a implementação da realidade virtual no programa de ensino. “Quando começamos a abordar rochas e minerais, alguns alunos já conheciam muitos nomes e disseram que haviam aprendido com o Minecraft”, lembra Lígia Diniz, coordenadora da instituição.
A sugestão deu certo e agora a escola estuda reestruturar o currículo e inserir a tecnologia no ensino de outras disciplinas, como Geometria. “É um jogo que foi feito para estimular as crianças a pensar, por isso, é uma ótima ferramenta pedagógica.”
No entanto, apesar de inserir o videogame nas salas de aula, a Escola Internacional de Alphaville precisou adotar medidas restritivas em relação ao uso de tablets e celulares por crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. “Tudo em excesso é prejudicial, até mesmo um jogo que estimula a criatividade. Ele estava tomando o tempo que deveria ser de convivência fora da realidade virtual”, explica a coordenadora.
Temais mais complexos
Para alunos mais velhos, já cursando o Ensino Médio, o uso da realidade virtual pode ser útil para discutir assuntos sociais ainda mais complexos. Na Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, no Ipiranga, na zona sul da capital paulista, o Minecraft não é o único videogame usado pela professora de Filosofia Zuleica Tani. Ela adota jogos como God of War para ensinar mitologia, além de Assassin’s Creed e GTA para discutir violência e papéis sociais.
“O interesse pela matéria mudou muito porque agora eles conseguem relacionar o conteúdo com algo que gostam”, explica Zuleica. Como a escola não tem estrutura para jogar em sala de aula – como computadores e memória interna para hospedar os jogos –, ela organizou um cronograma de horários para que os alunos jogassem em casa e trocassem informações online.
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Versão
A Microsoft comprou o Minecraft neste ano e lançará no segundo semestre uma versão educacional do jogo, desenvolvida especialmente para ser usada em sala de aula. “Uma das principais dificuldades da escola hoje é conseguir o engajamento dos alunos”, explica Antonio Moraes, diretor de Educação da Microsoft.
“Utilizar uma ferramenta de entretenimento é uma forma de atraí-los, ainda mais quando ela estimula o aluno a usar a criatividade, a ser o protagonista do que cria.”
*Com informações do Estadão Conteúdo
Fonte: Último Segundo – iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2016-07-25/realidade-virtual-salas-de-aula-sp.html