O que envolve editar um livro voltado aos jovens leitores e qual a importância de um catálogo amplo e de qualidade? Gil Sales, gerente editorial da Editora do Brasil, esclarece essas questões e apresenta o catálogo de Literatura deste ano ao mercado
Em 2021, a Editora do Brasil lança 18 novos títulos em Literatura Infantil e Juvenil, a maioria destinada ao Fundamental II, segmento escolar que vai dos 8 aos 15 anos e alcança também as faixas etárias do Ensino Médio. Com a pandemia, a atuação no mercado literário teve muitas questões a rever em 2020, com o poder aquisitivo da população diminuído e as escolas fechadas. No entanto, 2021 trouxe a certeza de que ler é um excelente negócio para os jovens e adultos, e conversamos com o gerente editorial da Brasil, Gil Sales, que falou sobre o panorama do mercado e os novos lançamentos.
Em 2020, a pandemia praticamente estacionou o mercado literário e suas ramificações. Quais as adaptações a pandemia provocou e como está o cenário atual?
Gil Sales: Neste ano de 2021, as coisas estão um pouquinho melhores e acho que, aos poucos, as questões que envolvem a pandemia estão ficando um pouco mais possíveis de lidar, mas, de qualquer forma, isso refletiu bastante nas nossas escolhas para esse ano. O mais importante foi precisarmos nos adaptar à questão do distanciamento social, pois não tem ocorrido nenhum evento presencial desde março do ano passado. As feiras e Bienais também não aconteceram, então isso foi bastante difícil, já que uma das questões mais bacanas quando trabalhamos com livros é essa interação com o mercado em encontros, feiras e eventos literários, que possibilitam a troca constante de informações e de conhecimentos. O virtual é muito interessante, substituiu bem muitas vezes, mas acho que todos sentem falta desse presencial. A Bienal anunciou que será parte presencial e isso é importante, pois com todo cuidado é possível começar a pensar nesses eventos. Fico receoso, porque é uma questão que precisa da análise da sociedade como um todo, mas os eventos fazem falta. Criando um protocolo que seja respeitado, é muito importante que possamos voltar a vislumbrar o acontecimento de eventos, tanto no Brasil quanto os internacionais – estes previstos apenas para 2022. Ter a Bienal é um certo alento, mas temos que ser muito cuidadosos, pois ainda não é um momento de tranquilidade.
No ano passado, os títulos da Editora do Brasil falaram muito sobre a diversidade e assuntos muito atuais. Como estão as temáticas dos livros para esse ano?
Gil Sales: Esses 18 livros representam o que temos de melhor em nossa seleção para abarcar as necessidades do nosso catálogo, que segue bastante diverso. É um catálogo pensado para as escolas inicialmente, mas cada vez mais também para o público geral. Fazemos esse trabalho de categorização de idade, por ser uma característica e uma demanda do mercado com o qual trabalhamos, mas os livros estão sempre destinados e pensados a leitores de todas as idades. Buscamos essa amplitude da oferta de nossos livros no catálogo. Eu acho que conseguimos manter essa característica da diversidade de temas, isso é uma presença constante no nosso trabalho, na forma como a gente lida com os temas que interessam a esse público, então a diversidade continua valendo e está muito forte – tanto a de temas, como a de gêneros textuais. Tentamos trazer o máximo de novidades e a nossa despensa de lançamentos este ano está bem seleta. Inclusive, um desses lançamentos, “Ainda assim te quero bem”, tem uma narrativa curiosa: o livro inteiro é uma troca de mensagens de texto.
Essa é uma das questões que tentamos trazer aos livros e à experiência do leitor, as narrativas não-convencionais. Sabemos como as redes sociais são hoje em dia para todo mundo, e para os jovens são fundamentais, essa geração praticamente nasceu com elas ao lado, com a tecnologia, a troca de mensagens, as redes sociais. Achamos muito interessante que os projetos dos livros reflitam essa característica dos tempos atuais. Esse lançamento que você citou, “Ainda assim te quero bem”, escrito pela Penélope Martins e o Caio Riter, é um livro construído completamente como se fosse uma troca de mensagens em uma rede social, entre mãe e filha que nunca se viram. A grande questão é a mãe ter saído de casa com a filha muito nova e agora tenta se reaproximar através da rede social e o livro aproveita para trazer essas falas sem um narrador “clássico”.
Outro título muito forte com a questão de redes e mensagens é o lançamento “Um Milhão de Mistérios”, da Série Cabeça Jovem, do autor Severino Rodrigues. A série se caracteriza justamente por isso, estar bastante colada na linguagem tecnológica, das comunicações instantâneas. É um livro que, visualmente, encanta os leitores por parecer com uma tela de celular ou de tablet e trazer esses elementos que normalmente vemos em uma rede social.
Para quem não sabe, como é o trabalho de um editor? Como é selecionado um livro, um autor? Como é uma conversa que decide um conteúdo que será publicado? O livro é enviado quase pronto ou é um processo evolutivo?
Gil Sales: Essa é uma pergunta interessante, pois muita gente não tem mesmo ideia. Escritores, muitas vezes, perguntam “quanto custa?”, como se fosse uma coisa assim simples – e seria ótimo se fosse. Basicamente, todas as editoras que conhecemos publicam livros de acordo com a demanda do público que elas atendem. Nós, normalmente, olhamos os originais enviados pelos autores, principalmente os que já publicam conosco, pois existe um trabalho de solidificação e manutenção do trabalho desses autores, que muitas vezes acompanham a editora por décadas, temos vários casos de autores conosco há muitos anos. Então fazemos um trabalho de recepção de autores que conhecemos, mas, além disso, estamos sempre de olho em possíveis novos autores, tem muita gente boa escrevendo e que precisa de uma oportunidade. Nos tempos atuais, essa abordagem acontece por e-mail e telefone, temos disponibilizado no site da editora um e-mail (original@editoradobrasil.com.br), pelo qual os autores podem enviar suas obras para avaliação. Nesses encontros e eventos literários também acontece de encontramos e conhecermos autores, são muito importantes para os projetos. Um que destaco em especial é o Salão da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) todo ano, no Rio de Janeiro, que espero que volte quando a pandemia permitir.
Quando era possível, também recebia autores presencialmente na editora, a partir do que os autores queriam apresentar. Diria que nosso catálogo é um mix dessas muitas entradas possíveis. É importante que os autores pesquisem as editoras para as quais enviam seus projetos. Somos uma editora de livros infantis, juvenis e didáticos, e já recebemos livros técnicos, religiosos, de culinária, que não são nossa área. Todo ano nos deparamos com isso, uma pesquisa é muito importante. A dica que dou aos autores é ver com qual livro disponível no mercado o seu se parece. Qual editora publica esse livro? Esse é um caminho interessante para quem vai enviar um original.
Cada vez mais, os títulos da Editora do Brasil trazem as ilustrações como fatores que complementam a narrativa de suas histórias, dialogando em alto nível com o que se vê no livro e criando um mundo à parte dentro delas…
Gil Sales: Bem importante falar sobre isso, porque dentro do mundo dos livros infantis e juvenis, é muito forte a presença da imagem, da narrativa visual, que conta muito para que a história alcance os leitores da melhor forma. Esse trabalho começa com uma pesquisa ampla para descobrir talentos, e os ilustradores e ilustradoras estão cada vez mais especializados em temas, nichos e nos materiais com os quais trabalham. Um fenômeno recente, de modo geral, é o aumento de mulheres no desenho das HQs, que antigamente eram feitos em grande parte pelos homens. O Brasil é um grande celeiro de arte em ilustrações para livros, tanto que sempre temos representantes nas principais feiras e mostras mundo afora. Temos uma gama bem ampla de ilustradores com quem trabalhamos e estamos sempre pesquisando. Quando surge um livro para o qual precisamos de um perfil específico, começamos essa pesquisa para chegar ao melhor nome possível – um bom exemplo dessa produção é o livro “Frederico, Frederico…”, da Simone Mota, ilustrado pela Bárbara Quintino, que chegou a nós por uma pesquisa que fizemos com uma agente de ilustradores, que nos apresentou o trabalho dela. Esse é o primeiro livro que a Bárbara ilustra, ela tem um traço muito bonito e um trabalho belíssimo com cores e, por ser negra, traz a bagagem que precisávamos para a história do livro e o lugar de fala do protagonista. É importante destacarmos nos livros as vozes de pessoas que talvez estivessem longe demais das narrativas e do protagonismo, na escrita e ilustração. Pretendemos sempre trazer ao nosso catálogo pessoas que tenham o que falar. É muito importante, pois nossos livros ampliam a leitura com as imagens, a narrativa visual pode até ser paralela. Quanto mais possibilidades narrativas, melhor.
Lançamentos 2021 da Editora do Brasil
A bisa e as botas de dinossauro
A deliciosa e misteriosa caixa
A revolução dos bichos
A revolução dos bichos em quadrinhos
Ainda assim te quero bem
Amanda no país do isolamento
De memes e memórias
Detetive Cecília e a área de sombra
Etevildo e a festa do pijama
Frederico, Frederico
Meu avô, os livros e eu
Nasci em 1922
O navio negreiro e outros cantos de Castro Alves
O pequeno príncipe – edição bilíngue
Os sete da independência
Sala 1208
Um milhão de mistérios
Uma semana inesquecível
“Estes 18 livros representam o que temos de melhor em nossa seleção para abarcar as necessidades do nosso catálogo, que segue com temas bastante diversos”
Gil Sales, gerente editorial da Editora do Brasil